6.8.06

Nem a Morte



Só AMORte AMORdaça AMORdida AMORosa
Só.

(Day by day. Grafitti paulistano, década de 80)

Boca que já perdeu os dentes
Por acaso não foi que não perdeu o hábito.
De dentro da carcaça velha a velha reclama: “Nem amante nem amigo.
Ninguém quer mais nada comigo.”
Era só procurar. Sair por aí farejando outra carcaça.
Mas a velha já não enxerga mais tão bem. Podia se confundir.
Se apaixonar por uma árvore de outono.
Dentro da velha a fêmea suspira: quer um macho.
Precisão que não caduca não caduca não caduca.
Ela põe caqui na gaveta do armário de roupa meia no fogão
Investiga a ladra refinada que mora dentro da casa
E rouba suas agulhas quando ninguém está olhando.
A velha que socava canjica no pilão
Talvez até o fim ainda se lembre da mordida do amor na alma.
E soca soca soca
Seu desejo por um varão.
.

imagem: Holding Onto Knowledge..by
nancyem1983
..Album: Around The House Art."Used with permission from CNET Networks, Inc., Copyright 200_. All rights reserved."

Um comentário:

Ricardo Mello disse...

Tudo coeso. Nao tem espaco pra mais uma palavra. Ou menos uma. Seus textos me encantam.