9.10.06

Origem

Quando era pequena acreditava
que tinham me achado numa lata de lixo.

Me lembrava do luar,
amarelado por sobre a lata.
A companhia de gatos, cacos, papelão, carvão molhado.
Não me sentia órfã.
Não me perguntava se não tinha pais.
O luar da madrugada era a minha origem.
Eu brotara do lixo,
simplesmente.

Não me sentia ofendida
Mas fui grata à mulher e ao homem que passavam e me recolheram
Me alimentaram com leite
Me deram uma infância com árvores
Um quarto com uma telha de vidro no teto para deixar entrar a Lua
e eu nunca me esquecer de quem sou.
Todas as vezes em que me perdi
estive apenas distraída

Pensava que todas as crianças do mundo começam assim
Cogumelos, musgos, brotos de escuridão
Um dia descobertos e adotados por compaixão

Até hoje creio nisto.

.
imagem: cena do filme "Blade Runner" (O Caçador de Andróides); EUA,Ridley Scott,1982.

2 comentários:

Jocelino Freitas disse...

Lindo poema. Parabéns.

Ricardo Mello disse...

eu vim desse lugar que voce conta tambem...